Hoje fui no médico saber do meu problema com xixi. Sai de casa atrasada, para variar, mas consegui chegar no consultório a tempo. Bom, isso porque eu não queria nem um pouco chegar atrasada na minha primeira consulta-médica-internacional. Não queria que o Dr. me achasse uma latina irresponsável.
Acontece que quando eu cheguei no consultório tive que esperar mais 2 horas para ser atendida. How
sweet! No meio tempo, preenchi a ficha do consultório, arrumei a bolsa (na minha afobada caminhada de casa até o consultório, com direito a breve paradinha no Salvation Army afim de catar um sofá baratinho, consegui derramar todas as minhas duzentas cramberry pills dentro da minha linda bolsa amarela do Andy Warrol), li revistas sobre gravidez (Deus me livre e guarde) e assisti a adorada "
Oprah" -
its not like I had a choice.
Eu e mais um velho caquético mumificado na cadeira da sala de espera, uma gorda desajeitada que parecia a diretora da minha escola quando eu estava na primeira séria, uma mulher negra vestida 100% de preto (super monocromática), alguns mexicanos barulhentos e um japonês, que era o único que assistia a Tv junto comigo. Talvez o velho estivesse assistindo também, talvez não. Sinceramente, não sei.
Voltando a "
Oprah"... era a história de uma senhora que tinha aquela doença super comum aqui na América. Caiu nas garras ferozes do consumismo e ficou lélé da cuca. A criatura comprava de tudo, e tudo que ela comprava era em quantidade, por exemplo, uma blusa era sempre comprada em todas as cores disponíveis. O nome dessa doença deve ser
stuff-o-mania, traduzindo para o português:
tralhomania. Impressionante a quantidade de merda que essa pessoa conseguiu acumular em 15 anos. A casa da família era um imenso mafuá de morros e pilhas de
stuff... de tralha... roupas, porta-retratos, papéis, sapatos, bolsas, toalhas, lencóis, bibelôs, móveis, eletro-eletrônicos, brinquedos, enfim... tudo que se possa imaginar, a infeliz tinha aos montes.
Seu hobbie?
Make gifts pra todo mundo. Ela gostava de comprar coisas que ela pudesse dar de presente, e tinha rolos e mais rolos de papel de presente, fitinhas coloridas, laçarotes e quilos de durex perdidos naquele inferno material.
O santo do marido dela aturava isso tudo calado - não me pergunte porquê... a velha devia dar no couro muito bem - e também tinha a sua mania pessoal com papéis. A pequena psicopatia do maridão era guardar todos os zilhões de
junk mail que recebia todos os dias. Mantinha recibos de cartão de crédito de quinze anos atrás. Nunca jogava nada fora e acumulava diariamente um arsenal vergonhoso de celulose dentro da casa.
Falando assim, parecem dois débeis, mas confesso que senti pena pelo casal. Quando a equipe da "
Oprah-dyvah" finalmente mostrou ao casal a casa deles depois de retiradas não sei quantas toneladas de JUNK, a senhora pois-se a chorar copiosamente. Dava para ver no rosto dela o desespero ao perceber o que tinha criado dentro de sua própria casa. Ultimamente ela e o marido estavam sofrendo de inúmeros problemas respiratórios causados pelo mofo e tudo de nojento que um monte de entulho pode acumular em 15 anos de inércia no mesmo lugar sem a limpeza adequada.
Para finalizar, "Oprah" fez um imenso garage sale com todas aquelas coisas e o total arrecadado foi de $13.000. Agora façam as contas... em um garage sale comum, todos os produtos (usados) são vendidos a preço de banana. Para alcançar esse montante de $13.000 imaginem a quantidade de merda que ela não tinha em casa. Sem mencionar todo o lixo que já tinha sido descartado antes.
Claro que o programa contou com muita choradeira, alguma histeria, óbvias risadas e com o choque constante do público traduzido em cínicos "ohhhh"s emitidos a torto e á direita. Mas, ainda assim, valeu o programa para retratar o tipo de sociedade imbecil que estimula esse consumismo doido que rola por aqui. Chegou a dar um medinho: "Meu Deus, será que eu vou cair nessa armadilha? Sonho todos os dias em compras aquelas legins coloridas de $4.50 da
Forever 21".
Olha, posso adiantar que não é difícil não. Consumo aqui na terra do tio Sam é assim: cego. Tudo de montão, você escolhe, você monta, você encontra o que você quiser. Ultra-customização. Pode ser bem baratinho ou caro mas super legal. Não tem como escapar.
Eu mesma que nunca fui de ligar pra certas coisas, começo a suar frio toda vez que chego perto da
Forever 21 (lojinha mais preferida). Mas a minha estratégia é super: carrego um kilo de roupas para exeperimentar e depois não fico com nenhuma. Mas preservo a minzinha o direito de tentar todas elas e invantar desculpas esfarrapentas para não ficar com nenhuma, por exemplo: "lindo, mas esse detalhe aqui é meio cafona". Só vou com boas intenções quando sei que preciso de algo e quando tenho algum dinheirinho sobrando.
Como não é o caso atualmente, apenas me delicio com pequeninices da moda. Como esse par de luvinhas fofo e baratinho que pretendo comprar logo logo.